terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

2023.

Não acredito que seja você.
Quem diria que em um dia chuvoso, eu encontraria você justamente aqui, num bar noturno e vadio.
A última vez que nos vimos foi em 13 de Fevereiro de 2012. Hoje são 27 de Julho de 2023. Já se passaram doze anos, amigo, doze anos. O que passou entre esses anos foram algumas distantes (e cada vez mais distantes) conversas pela internet, e algumas mensagens trocadas no fim do ano, “feliz natal” e “feliz ano novo” e nada mais, imagino.
Nos últimos oito anos, a vida foi exigindo mais de nós, e cada um seguiu no rumo que ela lhe ofereceu. Lembro de você ter comentado que iria viajar para Indonésia, numa reportagem especial, afinal, você virou jornalista, não? Ou terá sido convidado para administrar um hotel na Califórnia? Não, não... Você me disse algo como ir trabalhar como veterinário em Nova Yorque, ou advogar em Manhattan.
Sei que estava feliz, muito feliz. Tinha conseguido o que queria, estava comprometido, e mencionou que pensava em se casar... Engraçado, logo você que dizia que jamais ia se comprometer com medo do que o amor poderia lhe causar. Vendo daqui, você não parece usar aliança alguma, deve ter desistido da idéia. Ainda bem, acho.
Você está diferente, amigo. Com um ar que nada me lembra a juventude que vivemos ao lado um do outro. Anos que jamais me esquecerei. Vou encarar você, talvez perceba e me reconheça. Ou vou até você? Merda. Deviam ter escrito um livro sobre como chegar na pessoas depois de 12 anos. Depois dessa, talvez eu escreva. Divago.
Você me notou, mas não sei se apenas me vê, ou se me enxerga. Dou um leve sorriso. Você encara de volta agora, com uma cara divertida e desconfiada. Abaixo a cabeça e começo a rir, só comigo mesma. Flashback. Momentos que são recordados a cada batida cardíaca. Enquanto volto no tempo, sua sombra já está aos meus pés e você bem atrás de mim. Eu viro.
Para minha surpresa ou não, agora existem alguns fios grisalhos no seu cabelo. Ou serão apenas reflexos? Você sempre pintava o cabelo, desde os 15. Isso não importa agora.  É você mesmo, em carne, ossos e os anos em que nos tornamos desconhecidos. Alguém abre a boca.
- Bárbara? – Você pergunta, e me dou conta que eu jamais esqueceria sua voz. Jamais, jamais.
Talvez o porteiro da nossa velha escola tivesse razão, a mesma amizade daqueles lindos anos jamais seria mantida depois de tanto tempo. No entanto, ele errou em uma coisa: Podia não ser a mesma, mas ainda era amizade. As pessoas mudaram, eram outros tempos, outras idéias... Estamos nos reconhecendo, velho amigo. E reconhecer você, será um prazer.



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